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terça-feira, 29 de junho de 2010

Percorrendo a cidade com Cesário Verde V

Aqui, um beco sem saída. Viro-me. Saio de casa e as estreitas ruas, encruzilhadas e afogadas em certeiros, precisos e apressados passos conduzem-me onde eu não quero ir. Quem era aquela que passou por mim? Ao fundo vai outra, a mesma rapariga. “Bom dia, vizinho”, diz-me alguém e eu não respondo. Vejo ao longe: passou, delicadamente alguém, sobre a passadeira por contraste com quem espera por um verde para andar. “És livre”, dizem-me, “Mas não podes ir agora. Somos muitos e por isso há muita liberdade para organizar. Vai agora, corre. Mas vai só se quiseres”; ela já dobrou a esquina. Acabaram-se as ruas que me levam, por um ou outro caminho, sempre a casa: finalmente a baixa! Mas… um prédio, outro! Como as pessoas que passam por mim, vejo sempre a mesma, menos uma. Onde andará? Sigo ao Bairro Alto, contorno a Estrela e o Príncipe Real, onde vi, há dias, um velho que dava, junto da neta, sementes aos pombos. (Que será da neta? Corria tão bem e alegremente!). Atravessei Cais do Sodré a Belém, Praça do Comércio ao Parque Eduardo VII, e não a vi. Tantas ruas afogadas sobre o rio, só me deparei com becos sem saída. Subi ao Castelo. Olhei a vista: tantos telhados que cobriam casas vazias, como as pessoas por mim certeiras, precisas, apressadas, uma e outra vez outra sempre a mesma. Perdi-a na esquina. Onde andarás tu, Lisboa?

Pedro Sequeira nº18 11ºL

quarta-feira, 9 de junho de 2010

EU QUERO SER LIVRE

Eu quero libertar-me de tudo o que prende
A mim e à minha mente
e apenas Viajar

Andar sem sentido sem bússola nem mapa
Nas costas uma mala vazia
Na barriga ar na boca seca saliva
Mas libertar-me

Eu quero
Gritar quando todos estão calados
Correr quando todos estão quietos
Quero saltar quantos estão deitados
Sonhar quando todos sonham dormidos
E sonhar também acordado

Quero viver sem ideias feitas
Sem preocupações nem desfeitas
Viver apenas respirando comendo dormindo
Pensando e Escrevendo
E ser livre

Livre da razão para poder dizer todos os disparates
Livre da sintaxe e poder ter suficiente liberdade
Para gritar que quero voar como peixes e nadar como pássaros

Eu quero ser livre


João Carola 11ºH

Percorrendo a cidade com Cesário IV

O Sol, a meio da tarde, bate forte nas vidraças dos antigos bairros. As calçadas, das ruas de lata de Coca-Cola, estão apinhadas de provadores, interesseiros, consumidores! Jovens que parecem velhos, velhos que querem parecer jovens. Vestuários excêntricos, pretos de cabedal que brilham nas máscaras de Carnaval envoltas numa tinta desnecessária e arrogante.
Encontrões de nenhum afecto, olhares desinteressados nos pobres e comuns que reluzem com uma montra embelezada e a favor da escravatura.
Aqueles bairros, outrora acumulados de fadistas de pouca fama, são agora substituídos por gente reles, vaidosa e presunçosa.
Um consumo outrora fraco e saudável, agora de uma sede agressiva e ignorante.
A cidade de hoje já não é o que era nas ilustrações a tinta-da-china que se vêem nos livros de Portugal antigo.

Mariana Cruz 11ºL

Percorrendo a cidade com Cesário III


Encontro-me na cidade, uma velha e nova cidade, pequena, simples, mas brilhante. É uma cidade de casinhas brancas contornadas por uma linha verde, azul ou até amarela, consoante o gosto do habitante. Nas janelas vêem-se as cortinas brancas de renda, que parecem ter sido acabadas de lavar a qualquer hora do dia; mesmo ao longe, sente-se o cheiro a frescura e sabonete! Um cheiro que não se esquece.
Os telhados, muito baixos, dão a sombra nas tardes quentes daquela cidade. Nessas mesmas tardes, ouvem-se vozes agudas e roucas, mas bonitas, vozes que contam histórias da vida e nos falam das suas preocupações.
São bonitas as pessoas daquela cidade! Gostam do convívio e da harmonia, gostam de ver e de ouvir, de rir e de tocar, gostam do passeio e da praça e orgulham-se do templo! O templo que visitei, toquei na sua pedra, senti o vento e vi o verde do jardim.
Cidade fria e quente, cidade velha e nova de cultura, de moda, de trabalho e diversão. Cidade de casinhas e prédios novos, cidade de lojas e monumentos. É uma cidade, onde se pode ouvir, falar, rir e cantar!

Mafalda 11ºH

Percorrendo a cidade com Cesário II

Fora, cá fora, é pouco deslumbrante. Nada deslumbra, ao certo, se bem que o seu oposto paira entre as casas por descascar.
Não há luzes; há lusco-fusco. Sente-se o frio do Verão pequeno e o desagrado do comércio quando se passa por cada loja que, moribunda, se pergunta se realmente deverá encerrar para todo o sempre.
A estrada é bem cerrada; como não o fora antes, imagina-se então quão esburacada poderia ter estado... os pés sentem a estrutura de cada aresta sua, e o ar impregna muito lentamente cada pulmão. Faz arrepios. Não há ninguém.
Mas dentro do grande palácio comercial... as luzes! Cada olho é cego com mais de infinitas cores até fechar-se num sono diurno! Tudo é igual a tudo – pernas aqui, pernas ali... a correr ao encontro dos seus tesouros! Remoinho de visões e tempestade de emoções!
Enfim, tudo pára. Já é noite, noite que alguém bondoso concebeu... para conforto dos inteligentes. Eu passo sobre a ponte de ouro e passo pela porta de platinas, para nunca mais voltar.
E ao sossego da cidade moribunda volto, com luzes a piscar, deambulando, epiléptico, louco...


2010/05/21
Teresa Sousa 11ºE

Percorrendo a cidade com Cesário Verde

Estou sentado numa esplanada em plena Lisboa, rica, cinzenta, degradada, apreciando a melhor vista do rio Tejo. Ao fundo, um barco dá entrada no rio, avisando da sua chegada com um ruído alto e desafinado. Levanto-me e, ao percorrer as ruas de Lisboa, um agradável cheiro invade-me a mente, ocupando-se da minha boca e permanecendo ali quente e húmido, como um leve toque da brisa de Verão. Misturado com esse toque, vem também todo o sonho de uma Primavera florida e vistosa. As cores quentes e agradáveis das folhas de Outono e a fria e leve brancura do Inverno.
Nesta grande cidade tudo se movimenta, espalhando o seu aroma pelos ventos da tarde. Ao fundo da rua, um grupo de raparigas, alegres, bonitas, pouco humildes mas bem vistosas, passa depressa pelos jardins de rosas e margaridas macias. Por detrás delas as pequenas casas em redor da cidade começam a adormecer, ficando escondidas do sol pelas grandes torres que se erguem ao fundo, sólidas e escuras. É altura de voltar a casa, para o meu ambiente seguro e quente, onde paira a leveza de uma música calma vinda da televisão ao fundo da sala.

Joana Amaro 11ºE